segunda-feira, 23 de março de 2009

Perder pessoas queridas…


Este é sempre um assunto delicado. Mais delicado se for inesperado. A morte sempre foi umas das grandes questões de nossas vidas por via da qual surgiram todas as grandes religiões e sistemas morais até hoje existentes. Afinal de contas, esta é uma experiência que todos, inexoravelmente, vamos passar um dia. Mas não soubemos como de fato é ou será. Quando perdemos alguém que gostamos, podemos sentir diferentes emoções: tristeza, raiva, dúvida, dor enfim. Afinal, não mais estaremos com aquela pessoa, não iremos mais ter a companhia e sua atenção. Ficamos sem esta parte de nossas vidas. Perdemos alguém, e para sempre. Perdemos aquilo que nos dava mais sentido a vida, aquilo que alimentava nossa esperança, aquilo que um dia nos estendeu a mão, iluminou nosso caminho, abriu alguma porta, nos segurou quando estivemos prestes as cair de algum penhasco. Estamos falando daquela pessoa que em algum momento compartilhou sua vida, suas dúvidas e sabedoria, suas (des)esperanças conosco. Seu amor, enfim.
Quando sabemos que a pessoa partirá de nossas vidas, ou seja, em alguma situação de doença terminal ou idade avançada, temos algum tempo de refletir, conversar com esta pessoa, compartilhar algum ultimo desejo. Não que não nos entristeçamos ou que seja “fácil”, não se trata disso. Apenas há a possibilidade de esse evento de nossas vidas se torne mais leve, que o torna melhor aceito. Isto nem sempre é algo tranqüilo. Exige das pessoas um desapego que elas nem sempre estarão dispostas a oferecer a si e as pessoas próximas. Quantos de nós já conheceu alguém que cuidou de pessoa idosa ou gravemente adoecida com pouco tempo de vida, em que este cuidador ficou bastante abalado, em luto fechado, por alguma pequena coisa que poderia ter feito para ter cuidado melhor desta pessoa e ter-lhe evitado a morte? Às vezes nos preocupamos muito com a qualidade de vida de quem está nos seus últimos momentos e não vemos o sofrimento de quem está se dedicando a esta vida que se finda. Que sentimentos tem este cuidador empenhado em cuidar e manter a vida alheia e por ventura ocorre o “inesperado”? Como ele poderá gostar das inúmeras coisas da vida se ele terá de deixá-las? Numa situação mais estremada como esta pergunta que acabo de colocar, a pessoa pode se descuidar de viver sua vida, de investir nas suas coisas como amigos, algum divertimento, alguma vaidade, no seu crescimento profissional... Nestas condições, a fé e a crença na vida indicam estar abaladas. É claro que isto é uma reação normal se isso ocorrer em um curto período de tempo. Naturalmente que isto será mais forte quanto mais próxima for a pessoa, se a pessoa for mais jovem, e se sua perda foi inesperada ou acidental. No entanto, se estas idéias se manterem por muito tempo, digo meses e quem sabe anos, a situação remete a que algo mais está acontecendo, e esta pessoa está sofrendo com esta perda. É importante dizer que sentir falta de alguém que partiu é bastante comum e bem diferente de quando uma pessoa está paralizada, com sua capacidade de investir na vida se encontra comprometida por um período mais extendido.
É importante mencionar que a fé, a crença em alguma força superior, a religiosidade podem auxiliar muito neste percurso de dor e sofrimento pela perda de um ente querido. Não cabe aqui julgar se o cristianismo em suas várias formas como a verdade, o mesmo para outras crenças religiosas. O fato é que a espiritualidade, em proporções medianas, ajuda a superar e compreender melhor a vida e também a morte.
Por fim, a morte de alguém sempre trará a nós, todos nós, a oportunidade de pensar sobre como estamos levando nossas vidas. É pela vida de quem amamos que espelhamos a forma como desejamos que seja nossa vida.

Um comentário:

  1. Muito bom o texto. Encontrei seu blog justamente porque estava procurando alguma coisa que pudesse me ajudar, pois o vazio que uma morte deixa é aterrador. Vazio dentro de casa, vazio dentro de nós... Enfim, muito obrigado por postar, e que este texto possa servir de ajuda a muitas pessoas.
    Um abraço.

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