quinta-feira, 25 de junho de 2009

Ensaio sobre a Cegueira



Um filme chamado pelo mesmo nome da obra que o inspirou “Ensaio sobre a Cegueira” foi lançado no ano passado(ensaiosobreacegueirafilme.com.br). A obra é de autoria do Nobel de literatura, o português José Saramago. Um filme com toques de um humor bizarro não deixa de comover pelo drama que nos apresenta: um país inteiro fica cego repentinamente.
O filme exige um bom estomago e um fígado que dê conta de metabolizar a toxicidade da trama. Não é para menos. Os primeiros minutos são intrincados na medida em que os personagens vão misteriosamente ficando cegos e após param em um sanatório em quarentena. O cardápio inclui fezes, urina, esbarrões, muitos tropeços, egoísmos, oportunismos de todas as formas e indiferença, inclusive uma série de estupros coletivos (classificação indicativa do filme é 16 anos). É uma leitura corajosa e ousada do que é o gênero humano. Não somente o que há de mal no ser humano, mas de generosidade, da capacidade de nos compreendermos, de amar e perseverar.
Do isolamento do hospital, há uma testemunha que não foi contagiada que passa a liderar uma família improvisada de sete pessoas, que se mantém unida até o fim do filme. Ela é esposa de um oftalmologista e acaba sendo uma líder corajosa que enfrenta desde a depravação e incerteza, o horror e o amor, em uma fuga do hospital para uma cidade devastada e caótica pela epidemia da cegueira branca, onde vão tentar encontrar alguma esperança.
É um filme que não fala apenas de uma cegueira física. Ele conta de como somos cegos psiquicamente, indiferentes, sociológica e politicamente. Ela é uma alegoria do que somos ou podemos ser. Mas qual seria o sentido da cegueira? No final do livro do Saramago (página 310), escrito em português de Portugal:
Porque foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te digo o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estávamos cegos, cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem.
A resposta é muita coisa, mas não qualquer coisa. O sentido está no íntimo de cada um e ao mesmo tempo em todos nós enquanto sociedade. A pergunta não cala: quando e quantas vezes se vê sem enxergar?

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Os desígnios do amor….


Dia dos namorados. Data especial para oferecer uma atenção extra aquela pessoa única. Hoje essa é uma data em que a troca mútua de recados de amor em forma de objetos simbólicos acontece. Mas desde tempos remotos que datam da Grécia Antiga os homens e mulheres tem-se perguntado sobre o sentido do amor. Muito já se escreveu e se discutiu sobre o tema. O dramaturgo grego Aristófanes (c. 447 a.C à 385 a.C) na obra O Simpósio:
Os primeiros entes humanos eram fruto da obra de Deuses jovens e eternamente belos. Foram, assim mesmo, construídos de forma diversa dos seus criadores: redondos, completos e integrais. Mas tinham duas caras... Foi quanto bastou, aliás, para que as divindades temessem ser passados para «uma segunda classe de seres», a partir do poder de controle próprio e, por tal fato mesquinho, os Deuses cortaram os primeiros seres ao meio. Cada ser humano passou a possuir uma só cara e pares de membros robustos.
Nesta época mítica, homens e mulheres formavam uma única entidade, extremamente poderosa, que as divindades gregas sentiram-se ameaçadas. Assim, o que deviam os deuses fazer para punir com a morte esses ousados? A morte é um castigo excessivo, e definitivo. Zeus, o deus máximo da mitologia grega opta: divide os andróginos em dois. Eles se mantém vivos, mas as metades ficaram por se encontrar, com a esperança de que este ato devolva-lhe a antiga força. É o castigo, mas, vindo de um deus, denota paixão. É por isso que a atração daqueles que se amam é inevitável, extasiante e irresistível.
Esta é uma versão do que a paixão e o amor podem ser para as pessoas. Paixões podem ir e vir, mas o que é certo é que elas são capazes de proporcionar sentido a vida. Seja com mais de uma pessoa ao longo da vida, seja se apaixonando várias e de diferentes maneiras pela mesma pessoa. Um ótimo final de semana!