segunda-feira, 4 de maio de 2009

Os alimentos da alma



Muito tem se estudado sobre as propriedades nutricionais dos alimentos, estes mesmos ganham os mais variados adjetivos como funcionais e podem sofrer combinações específicas com dieta na gestante, dieta do idoso, dieta do diabético... Nada contra, há situações que isso é absolutamente necessário. Gostaria de falar hoje de um hábito alimentar que tem se tornado menos incomum em nossos dias. Aquela velha mania que a banda Skank canta já há mais de década:
Família, família
Almoça junto todo dia,
Nunca perde essa mania. (e por aí vai...)
Num recente estudo sobre hábitos alimentares em grandes cidades constatou-se que aproximadamente 69% das pessoas costumam assistir televisão nas refeições. Ou seja, o tempo para o diálogo com quem se compartilha o momento é no mínimo dividido com a telinha, quando não ocupado exclusivamente. Além do mais, a rotina corrida do dia-a-dia da modernidade parece não nos permitir o suposto luxo deste momento sagrado de comer devagar e/ou se alimentar da companhia de alguém. Cada vez menos as famílias têm o hábito de se sentar a mesa e saber um dos outros, de trocar e conversar. As pessoas chegam a imaginar-se sem ter o que fazer quando acaba a luz.
O hora do almoço pode ser um bom pretexto para se reunir a família, trocar informações desde hábitos familiares sobre os alimentos, peculiaridades que cada família tem sobre isso. Este é um momento de intimidade, afinal de contas não convidamos qualquer pessoa para cear conosco, não é verdade? É o momento em que os adultos podem expressar e atualizar seus sentimentos em relação aos filhos, aos filhos saber da vida profissional dos adultos, dos pais acompanharem a vida escolar e os círculos de amizade dos filhos. Pode ser um momento que apareçam as contradições e os conflitos. Sim, eles fazem parte de todas as famílias, não interessa classe social ou cor. É uma boa oportunidade de exercer o diálogo de forma polida, de tentar se por no lugar do outro, de conhecer sua rotina, suas razoes. É um exercício nada fácil muitas vezes, mas bastante necessário. Uma “coisa” muito importante pode estar se sustentando através destes espaços de convivência familiar: o sentimento de pertencimento, esse sentimento que nos faz sentir integrados e próximos como seres humanos.
Por qual motivo estamos nos tornando comedores solitários? Será que estamos dando mais valor ao aspecto nutricional do que o social dos alimentos? Nossas parcerias concretas tem sido a TV e o computador? Parece que temos a refletir a respeito: a vida que levamos é a vida que nos leva?

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